
Saudade não é o que a gente sente quando a pessoa vai embora. Seria muito simples acenar um 'tchau' e contentar-se com as memórias, com o passado. Saudade não é ausência. É a presença, é tentar viver no presente. É a cama ainda desarrumada, o par de copos ao lado da garrafa de vinho, é a escova de dentes ao lado da sua. Saudades são todas as coisas que estão lá para nos dizer que não, a pessoa não foi embora. Muito pelo contrário: ela ficou, e de lá não sai. A ausência ocupa espaço, ocupa tempo, ocupa a cabeça, até demais. E faz com que a gente invente coisas, nos leva para tão próximo da total loucura quanto é permitido, para alguém em cujo prontuário se lê "sadio". Ela faz a gente realmente acreditar que enlouquecemos. Ela nos deixa de cama, mesmo quando estamos fazendo todas as coisas do mundo. Todas e ao mesmo tempo. É o transtorno intermitente e perene de implorar por 'um pouco mais'. Saudade não é olhar pro lado e dizer "se foi". É olhar pro lado e perguntar "cadê?". '
Eu acordei assim. Um aperto que não passa e uma ansiedade maior que o próprio corpo. Uma vontade de sair correndo e gritar tão alto que eu não escutasse tanto o som das batidas do meu coração. Mas não dá. E mais uma vez eu me prendo nos limites da minha pele que está fria, contrariando todas as perspectivas diante do calor que inunda o ar que tento respirar. Calor, frio, aperto. É sufocante. Eu tento respirar fundo e buscar dentro de mim o fôlego que você levou. Mas não encontro. E me perco. E fico. Espero. Fecho os olhos. E adormeço. Entorpecida de um sentimento que me corrói, mas que ainda assim sei que há de passar.
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